Banho de cheiro, cacau selvagem, açaí do pé: como a COP 30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável

  • 20/11/2025
(Foto: Reprodução)
Rota Caratateua Viva!: COP30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável Você desembarca em Belém para acompanhar os debates da COP 30 e, entre uma plenária e outra, descobre que a Amazônia que sempre apareceu em relatórios climáticos está bem perto: no cheiro da mata depois da chuva, na canoa que atravessa igarapés, na panela de açaí recém-batido na beira do rio. Com a COP 30, Belém vive um momento decisivo para a diplomacia climática e para o fortalecimento do turismo sustentável na Amazônia que gera renda para as comunidades locais sem destruir o meio ambiente nem desrespeitar seus modos de vida. Nas ilhas que circundam a capital, como Combu, Caratateua e Cotijuba, e nas comunidades que integram a Grande Belém, projetos de turismo de base comunitária ganham evidência e mostram, na prática, como desenvolvimento e preservação podem caminhar juntos. Para quem chega ao Pará, a imersão passa por sabores que tremem na boca, trilhas que seguem o ritmo da maré, manhãs de carimbó no quintal e oficinas conduzidas por ribeirinhos, mestres da cultura popular, artesãs, agricultores e jovens extrativistas. É banho de cheiro com ervas e folhas da Amazônia, cacau selvagem que nasce na floresta, açaí colhido do pé e preparado ali mesmo, na beira d’água. Turismo ecológico convida visitantes a conhecerem a Belém ribeirinha. Na foto, vista aérea da Ilha do Combu, a 15 minutos do centro da capital Rota Combu É uma Amazônia apresentada por quem a vive: agricultores, extrativistas, artesãs, ceramistas, mestres da cultura popular e jovens ribeirinhos que veem no turismo sustentável um caminho de renda e permanência em seus territórios. “A COP 30 acelera processos que já vinham sendo construídos, mas que agora ganham mais fluxo, visibilidade e investimento. Ela funciona como um catalisador de iniciativas que antes atuavam de forma isolada. Um movimento impulsionando bionegócios, qualificando experiências e mostrando que o turismo na Amazônia vai além do lazer. É uma ferramenta de conservação, geração de renda e valorização cultural”, avalia Tainah Fagundes, conselheira da ASSOBIO e cofundadora da Da Tribu. “Estamos aproveitando esse momento histórico para deixar um legado duradouro para o território e para as comunidades que constroem a sociobioeconomia todos os dias”, completa. Segundo o Sebrae Pará, a COP 30 acelerou formações, certificações e a organização de empreendimentos comunitários, e trouxe uma oportunidade concreta para a cidade se posicionar como referência em turismo de natureza, cultura e sociobioeconomia. “A COP intensificou nossa preparação e colocou o Combu e outras ilhas no mapa do turismo sustentável. Para os ribeirinhos, isso significa mais autonomia, renda e permanência na terra”, afirma Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae. Extrativista ribeirinho do Combu exibe um enorme cacho de açaí, fruto-símbolo do Pará Rota Combu O que visitar em Belém? Veja lista de opções de destinos turísticos na cidade das mangueiras Atrações em Belém no mapa do turismo sustentável Divulgação Rota Combu: a floresta a 15 minutos do centro de Belém De dentro da cidade, o visitante vê o Guamá correndo em frente ao Ver-o-Peso. O que muita gente descobre durante a COP 30 é que, do outro lado do rio, a poucos minutos de barco, existe uma floresta inteira organizada para receber quem chega com curiosidade e respeito. Formada por casas de palafita, hortas agroflorestais, cacau nativo e igarapés, a Ilha do Combu se tornou um polo de turismo sustentável com a Rota Combu, criada em 2025 pelo Sebrae Nacional, Sebrae Pará e Raízes Desenvolvimento Sustentável. O projeto reúne 14 empreendimentos, todos em processo de certificação com a Green Destinations, organização internacional referência em turismo responsável. Dona Nena, empreendedora do chocolate que trabalha com cacau 'selvagem', originário da floresta do Combu: sabor da Amazônia Rota Combu A experiência começa na travessia. O vento úmido no rosto, o som do motor da rabetinha, o horizonte se abrindo em tons de verde. Do outro lado, o tempo muda. O visitante passa a seguir o ritmo da maré, das colheitas, das cozinhas que acendem o fogo cedo para preparar peixe. Quem participa dos roteiros pode navegar por igarapés, caminhar em trilhas agroflorestais, conhecer o manejo de cacau, acompanhar a produção de chocolate, observar a fauna e experimentar uma gastronomia amazônica feita com jambu, tucupi e frutas nativas, tudo apresentado por quem nasce e cresce nesse território. “A Rota Combu não é só turismo: é reconexão com a floresta, com a comida feita no fogo, com o tempo da maré e com o jeito ribeirinho de viver”, explica Mariana Madureira, coordenadora da iniciativa. No passeio, um dos destaques é Dona Nena, ribeirinha que transforma o cacau nativo da ilha em chocolate há quase 20 anos e hoje é referência de empreendedorismo na floresta. Desde 2006, quando começou a produzir chocolate artesanal na própria cozinha, ela desenvolve uma tecnologia ancestral em que a floresta dá o fruto, os povos ribeirinhos colhem, secam as sementes e produzem um chocolate de terroir único, literalmente “da floresta à barra”. A fábrica, erguida sobre palafitas no meio da mata, virou parada obrigatória de turismo de imersão e símbolo de bioeconomia: em 2024, recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron, ao lado do presidente Lula, em uma visita que colocou o cacau do Combu no radar internacional. Ensaio de Lula e Macron no Pará viralizou nas redes sociais Ricardo Stuckert/PR Dona Nena faz questão de lembrar que cada barra depende da saúde do território. “Cada barra de chocolate depende da saúde do nosso território. Todo o processo acontece dentro da mata, com o cacau crescendo debaixo das árvores e se alimentando da própria floresta. Trabalhando assim, a gente aprende a ter ainda mais respeito por tudo que ela oferece.” Fortalecido, o turismo sustentável tem entusiasmado moradores e empreendedores da ilha. “Antes, a gente recebia visitantes de forma solta. Agora temos roteiro, formação, comunicação e segurança para trabalhar. Isso dá orgulho e garante renda para a comunidade”, afirma Boaventura Carneiro Jr., morador e empreendedor local. Veja os destinos da Rota Combu Sítio do Combu Gourmet – gastronomia local com ingredientes amazônicos Oficina de Artesanato Ribeirinho – técnicas com materiais da floresta Passeio Agroflorestal – manejo e cultivo sustentável Tour de Bioeconomia – empreendimentos de conservação e renda Experiência do Jambu e Tucupi – preparo e degustação Rota do Cacau e Chocolate – cacau nativo e produção artesanal Observação da Fauna e Flora – biodiversidade amazônica Circuito de Saberes Tradicionais – práticas culturais ribeirinhas Passeio de Canoas Históricas – navegação tradicional Vitrine de Empreendimentos Sustentáveis – feira de produtos da comunidade Experiência Noturna da Floresta – observação noturna guiada Trilha da Castanha e Frutas Nativas – colheita e manejo Visita ao Apiário Comunitário – produção de mel e polinização Laboratório de Educação Ambiental – oficinas sobre conservação Roteiro abre com as boas vindas do carimbó Pau & Corda na beira do rio Divulgação Caratateua Viva!: cultura viva e turismo comunitário em Outeiro Se no Combu a floresta abraça o visitante, em Caratateua, nome em tupi da Ilha de Outeiro, é a cultura popular que chama pelo corpo. O Caratateua Viva!, lançado durante a COP 30, convida quem chega a viver um dia inteiro de imersão com mestres e mestras da ilha. A jornada começa com café da manhã ribeirinho: tapioca, peixe, frutas, café passado na hora. Logo depois, a batida do carimbó toma conta do espaço. Visitantes são convidados a entrar na roda, aprender passos, ouvir histórias, entender o sentido das músicas e das festas. “O que fazemos aqui é receber as pessoas como fomos ensinados: com música, comida e história. Quando o turista participa, ele ajuda a manter nossa cultura viva”, afirma Mestre João, ceramista do bairro São João. Roteiro inclui passeio de canoa pelas águas da ilha de Outeiro Divulgação Ao longo do dia, o grupo passa por oficinas de cerâmica, colheita de açaí, passeio de canoa e vivências agroecológicas. É um turismo que atravessa fé, arte, trabalho e território. Para Mãe Sandra, anfitriã da Casa de Mariana, o turismo comunitário também é uma forma de cuidado e de continuidade. “Mostrar nossa espiritualidade, nossa cozinha, nossas festas é mostrar quem somos. E isso gera renda para a comunidade inteira, não só para quem recebe os visitantes.” O Caratateua Viva! é uma realização do Sebrae Nacional em parceria com o BID e a Prefeitura de Belém, dentro do programa Turismo Futuro do Brasil (TFB), e se apresenta como um laboratório vivo de cultura amazônica contemporânea. Roteiro leva visitantes a ceramistas tradicionais da região: artesanato feito com barro da floresta Divulgação Caratateua Viva! — 12 experiências em Outeiro Grupo Parafolclórico Tucuxi e Regional Jurupari – carimbó, xote e lundu Casa de Mariana (Mãe Sandra) – fé, ancestralidade e acolhimento Cerâmica São João (Mestre João) – ofício ancestral do barro Atelier Cerâmico (Mestra Sinéia) – argilas coloridas e técnicas tradicionais Chalé Sítio de Maré – vivência agroecológica e gastronomia ribeirinha Terreiro Inzo Mukongo (Tatetu Kalité) – tradição bantu e formação cultural Biblioteca Tralhoto – leitura, memória e cultura popular Boi Misterioso (Mestre Apollo) – oficinas e apresentações de boi-bumbá Casa Preta (Don Perna) – quilombo urbano de arte negra Monturo do Urubu (Cordão do Urubu) – festas e ensaios juninos Cordão de Pássaro Tem-Tem (Profª Inaiá Paes) – lendas amazônicas em teatro e música Associação Cultural Colibri (Mestra Laurene) – um dos grupos mais antigos da ilha A famosa cachaça de jambu é um dos produtos da rota ASSOBIO Divulgação ASSOBIO: turismo às cadeias da sociobioeconomia Para quem chega pela primeira vez à Amazônia, poucas experiências surpreendem tanto quanto provar a famosa cachaça de jambu, no Meu Garoto. A bebida, feita com a infusão da planta típica da região, já cantada por Dona Onete e presente no imaginário brasileiro, provoca uma sensação imediata de formigamento nos lábios e na língua, efeito natural do espilantol. Não é só um drinque: é um ritual de boas-vindas amazônico, que mistura botânica, cultura popular e aquele tipo de descoberta que só o turismo de imersão proporciona. Entre os empreendimentos de sabor amazônico articulados pela ASSOBIO, a cachaça de jambu divide espaço com o cacau, a castanha, os óleos, os frutos e o artesanato produzidos por comunidades que fazem da floresta em pé a base da sua economia. A Associação de Sociobioeconomia da Amazônia atua fortalecendo uma economia baseada na sociobiodiversidade: produtos e serviços que vêm da mata e geram renda para as comunidades que cuidam dela. Roteiro do Açaí Sustentável mostra manejo do açaí com conservação ambiental e renda comunitária ASSOBIO Com 132 associados, a ASSOBIO criou itinerários que apresentam ao visitante toda essa cadeia, sempre com foco em preservação e geração de renda. Não é só observar: é caminhar pelas roças, ouvir como se decide o manejo, ver a organização coletiva, entender o que significa negociar preço e manter o território. O primeiro roteiro, no Sítio da Cruz, em Ananindeua, leva o público a acompanhar todo o processo de produção do chocolate amazônico: do cacau colhido ao sol na roça até a barra final que chega à mesa. “Queremos que as pessoas vejam e sintam como a sociobioeconomia funciona. É diferente quando a pessoa pisa na terra, cheira o cacau, conversa com quem planta e percebe que cada barra de chocolate é um pedaço de floresta em pé”, diz Tainah Fagundes. A produtora quilombola Luana Machado, de Moju, reforça essa ideia. “Quando mostramos nosso trabalho, mostramos também por que é importante manter a mata viva. O turista entende que sustentabilidade não é discurso, é o que garante que nossas famílias sigam aqui.” Até a COP30 terminar, a ASSOBIO prevê 11 roteiros que vão do manejo sustentável do açaí a vivências com comunidades quilombolas, passando por trilhas ecológicas, gastronomia tradicional e práticas de bioeconomia. ASSOBIO — Roteiros de Sociobioeconomia Roteiro do Açaí Sustentável – manejo do açaí com conservação ambiental e renda comunitária Turismo de Base Comunitária no Marajó – cultura marajoara, artesanato e modos de vida tradicionais Caminhos do Jambu – gastronomia amazônica e saberes culinários ancestrais Rota do Cacau e Castanha – produção artesanal de chocolate e castanhas nativas Turismo Ecológico no Utinga – trilhas, biodiversidade e áreas de preservação Roteiro das Comunidades Quilombolas – cultura, memória e práticas sustentáveis Rota do Cupuaçu e Bacaba – cadeias produtivas da bioeconomia amazônica Turismo de Experiência no Combu – vivências ribeirinhas e manejo agroflorestal Rota do Jatobá e Andiroba – uso sustentável de produtos florestais Caminhos do Guaraná – produção sustentável, história e técnicas tradicionais Turismo Cultural no Círio de Nazaré – festa, fé e práticas culturais sustentáveis VÍDEOS com as principais notícias do Pará

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2025/11/20/banho-de-cheiro-cacau-selvagem-acai-do-pe-como-a-cop-30-coloca-belem-no-mapa-do-turismo-sustentavel.ghtml


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